Nesta fotografia de Jeff Wall, Mimic, tirada em 1982, vemos a recriação de um episódio de discriminação presenciado pelo autor, em Vancouver. O artista é conhecido por retratar situações que, apesar de serem encenadas, parecem naturais e espontâneas.
Nesta composição grupal, um americano faz um gesto rude ao asiático que passa ao seu lado. A indiferença deste em relação à discriminação de que é alvo, pode dever-se à recorrência de situações como esta, mas também ao medo de represálias físicas, caso reagisse. A companheira do agressor mostra-se indiferente aos dois homens, ignorando ambos, e o acto em si.
Mas por quê esta atitude de discriminação? Para os americanos, um asiático com uma boa situação económica, social e laboral, é uma afronta. Consideram que sendo estes, estrangeiros, e de outra raça, não têm direito a um padrão elevado de qualidade de vida.
Há vários exemplos de actos de descriminação racial contra asiáticos, na América. Em 1882 (cem anos antes desta fotografia ser tirada), o “Acto de Exclusão Chinesa” consistiu numa descriminação específica contra os chineses imigrantes, chegando-se ao ponto de a América os proibir de entrar nas suas fronteiras. Outro acto de puro racismo foi o aprisionamento injustificado de muitos japoneses-americanos durante a Segunda Guerra Mundial, somente pelas suas raízes. A própria justiça dentro dos tribunais era negada tanto a chineses como a japoneses imigrantes. Durante muito tempo, tiveram mesmo de reivindicar os seus direitos de forma a poderem ter uma fonte de rendimento.
Apesar de estes incidentes terem ocorrido há bastante tempo, e com a integração dos asiáticos na sociedade americana, estas atitudes continuam a ocorrer nos dias de hoje. Seria de esperar que, uma vez que os asiáticos se conseguissem integrar na sociedade, a aceitação seria algo em crescimento, diminuindo assim os actos de racismo. Mas, na realidade, estes crimes aumentaram, ocorrendo hoje em dia vários actos de desprezo, indiferença e violência extrema, de que é exemplo o assassinato de Vincent Chin (1982). Este foi morto por Ronald Ebens e Michael Nitz, que o espancaram até à morte esmagando-lhe o crânio através de repetidas tacadas dadas com um taco de basebol. Justificaram-se, acusando-o a ele e a todos os japoneses pela recessão que na altura se fazia sentir; disseram que se tratava de um dos culpados por terem perdido o emprego. É de referir que Vincent Chin era chinês, embora o tivessem culpado como sendo de raça japonesa, o que mostra o racismo contra os asiáticos em geral.
Mas, apesar de hoje nos sentirmos revoltados com este caso de violência, na altura este traduziu o racismo extremado, na forma como os criminosos foram julgados. Por um crime de que resultou uma morte, estes dois indivíduos apenas foram condenados a dois anos de liberdade condicional e uma multa de $3,700, tendo sido sentenciado como um assassinato acidental e não como um assassinato em segundo grau (matar alguém intencionalmente, mas sem premeditação).
Actos destes acontecem em todos os cantos do mundo, mostrando a indiferença perante a injustiça tantas vezes intrínseca nas sociedades.
Ao analisarmos estes casos de discriminação racial nos E.U.A., devemos ter em conta que estes exemplos se intensificam na periferia das grandes cidades. Aí, os imigrantes recém-chegados ao país tendem a refugiar-se em comunidades mais ou menos fechadas. O que é uma tentativa de se proteger face ao desconhecido acaba por se tornar num factor de isolamento. Estas comunidades geram comportamentos de exclusão entre grupos de etnias diferentes e em relação à cultura dominante - a do branco americano. É frequente registarem-se conflitos entre grupos minoritários, que revelam também ausência de tolerância perante culturas diferentes da sua e da do país que os acolhe, sendo ao mesmo tempo alvo e origem de conflitos.
Presenciamos várias atitudes racistas que se manifestam, nomeadamente, no ambiente escolar. Com a entrada no sistema de ensino, os imigrantes ou filhos destes, enfrentam o desafio da integração social. Muitas vezes, esta situação torna-se sinónimo de um primeiro contacto com as diferentes formas de exclusão. Se até aí, as crianças ou adolescentes apenas sentiram as pressões da discriminação através do que acontecia com os pais ou familiares, é ao entrarem para a escola que enfrentam essa realidade por si mesmos.
É alarmante como os casos de alcunhas insultuosas ou até mesmo de ameaças físicas estão presentes, não só no ensino universitário, mas também nos básico e secundário. As consequências destas acções são determinantes para o desenvolvimento psicológico e intelectual dos jovens, vítimas de tais agressões. O peso de ser apelidado de “Jap” ou abordado com frases como “Hurry up, you dumb Ching!” irá deixar diferentes marcas nos indivíduos, podendo causar situações de isolamento, que podem evoluir para casos extremos de depressão, chegando até ao suicídio.
Esta descriminação é disseminada nos mais variados meios, contribuindo para a deformação das mentalidades. Um dos mais esquecidos, visto ser encarado como algo “inocente” é toda a indústria da animação.
Esta, por volta das décadas de 30 e 40 do século XX, tinha um caris intrinsecamente propagandístico. Devido à segunda guerra mundial, uma intensa propaganda política conferia à animação um carácter racista, carregado com mensagens subliminares. A própria Disney, caracterizada pelo seu realismo estético e pela personalidade das personagens, é acusada de racismo, precisamente pelos estereótipos que estas representam. No entanto, os cartoons mais racistas são geralmente direccionados para a raça negra, como se pode ver pelo filme “Coal Black and De Seben Dwarfs”. Primam pelo exagero e pelo cómico, escondendo assim a descriminação directa e fazendo com que essas “gags” tenham um carácter aparentemente inofensivo. Neste pequeno filme de sátira à Branca de Neve da Disney, podemos ver como o esteriótipo da mulher negra é representado e como esta era vista pela sociedade da época - um mero objecto sexual. Este tipo de animação também fazia com que, em tempo de crise da guerra, o cómico não tivesse aparentemente qualquer tipo de mensagem para além do que era mostrado visualmente.
Durante este período, a animação teve um papel importantíssimo para a imposição dos objectivos e mentalidade dos diferentes países, independentemente do que estava “certo” ou “errado”. Assim, temos como exemplo, a reacção aos japoneses em muitos “cartoons”, através do seu estereótipo. Em oposição, por parte do Japão, temos a reacção ao típico filme da Disney, como se pode ver por alguns filmes do género de animação, conhecido como Anime.
As sementes do racismo são então transmitidas de forma subtil, através de produtos tão facilmente assimilados como o cinema de animação. Conseguimos assim entender de que forma atitudes racistas, como as descritas anteriormente, são possíveis e aceites como banais por uma sociedade. Daí que seja “normal” a indiferença espelhada no rosto da personagem feminina da foto, assim como a resignação do asiático perante a atitude irracional do americano.
Nesta composição grupal, um americano faz um gesto rude ao asiático que passa ao seu lado. A indiferença deste em relação à discriminação de que é alvo, pode dever-se à recorrência de situações como esta, mas também ao medo de represálias físicas, caso reagisse. A companheira do agressor mostra-se indiferente aos dois homens, ignorando ambos, e o acto em si.
Mas por quê esta atitude de discriminação? Para os americanos, um asiático com uma boa situação económica, social e laboral, é uma afronta. Consideram que sendo estes, estrangeiros, e de outra raça, não têm direito a um padrão elevado de qualidade de vida.
Há vários exemplos de actos de descriminação racial contra asiáticos, na América. Em 1882 (cem anos antes desta fotografia ser tirada), o “Acto de Exclusão Chinesa” consistiu numa descriminação específica contra os chineses imigrantes, chegando-se ao ponto de a América os proibir de entrar nas suas fronteiras. Outro acto de puro racismo foi o aprisionamento injustificado de muitos japoneses-americanos durante a Segunda Guerra Mundial, somente pelas suas raízes. A própria justiça dentro dos tribunais era negada tanto a chineses como a japoneses imigrantes. Durante muito tempo, tiveram mesmo de reivindicar os seus direitos de forma a poderem ter uma fonte de rendimento.
Apesar de estes incidentes terem ocorrido há bastante tempo, e com a integração dos asiáticos na sociedade americana, estas atitudes continuam a ocorrer nos dias de hoje. Seria de esperar que, uma vez que os asiáticos se conseguissem integrar na sociedade, a aceitação seria algo em crescimento, diminuindo assim os actos de racismo. Mas, na realidade, estes crimes aumentaram, ocorrendo hoje em dia vários actos de desprezo, indiferença e violência extrema, de que é exemplo o assassinato de Vincent Chin (1982). Este foi morto por Ronald Ebens e Michael Nitz, que o espancaram até à morte esmagando-lhe o crânio através de repetidas tacadas dadas com um taco de basebol. Justificaram-se, acusando-o a ele e a todos os japoneses pela recessão que na altura se fazia sentir; disseram que se tratava de um dos culpados por terem perdido o emprego. É de referir que Vincent Chin era chinês, embora o tivessem culpado como sendo de raça japonesa, o que mostra o racismo contra os asiáticos em geral.
Mas, apesar de hoje nos sentirmos revoltados com este caso de violência, na altura este traduziu o racismo extremado, na forma como os criminosos foram julgados. Por um crime de que resultou uma morte, estes dois indivíduos apenas foram condenados a dois anos de liberdade condicional e uma multa de $3,700, tendo sido sentenciado como um assassinato acidental e não como um assassinato em segundo grau (matar alguém intencionalmente, mas sem premeditação).
Actos destes acontecem em todos os cantos do mundo, mostrando a indiferença perante a injustiça tantas vezes intrínseca nas sociedades.
Ao analisarmos estes casos de discriminação racial nos E.U.A., devemos ter em conta que estes exemplos se intensificam na periferia das grandes cidades. Aí, os imigrantes recém-chegados ao país tendem a refugiar-se em comunidades mais ou menos fechadas. O que é uma tentativa de se proteger face ao desconhecido acaba por se tornar num factor de isolamento. Estas comunidades geram comportamentos de exclusão entre grupos de etnias diferentes e em relação à cultura dominante - a do branco americano. É frequente registarem-se conflitos entre grupos minoritários, que revelam também ausência de tolerância perante culturas diferentes da sua e da do país que os acolhe, sendo ao mesmo tempo alvo e origem de conflitos.
Presenciamos várias atitudes racistas que se manifestam, nomeadamente, no ambiente escolar. Com a entrada no sistema de ensino, os imigrantes ou filhos destes, enfrentam o desafio da integração social. Muitas vezes, esta situação torna-se sinónimo de um primeiro contacto com as diferentes formas de exclusão. Se até aí, as crianças ou adolescentes apenas sentiram as pressões da discriminação através do que acontecia com os pais ou familiares, é ao entrarem para a escola que enfrentam essa realidade por si mesmos.
É alarmante como os casos de alcunhas insultuosas ou até mesmo de ameaças físicas estão presentes, não só no ensino universitário, mas também nos básico e secundário. As consequências destas acções são determinantes para o desenvolvimento psicológico e intelectual dos jovens, vítimas de tais agressões. O peso de ser apelidado de “Jap” ou abordado com frases como “Hurry up, you dumb Ching!” irá deixar diferentes marcas nos indivíduos, podendo causar situações de isolamento, que podem evoluir para casos extremos de depressão, chegando até ao suicídio.
Esta descriminação é disseminada nos mais variados meios, contribuindo para a deformação das mentalidades. Um dos mais esquecidos, visto ser encarado como algo “inocente” é toda a indústria da animação.
Esta, por volta das décadas de 30 e 40 do século XX, tinha um caris intrinsecamente propagandístico. Devido à segunda guerra mundial, uma intensa propaganda política conferia à animação um carácter racista, carregado com mensagens subliminares. A própria Disney, caracterizada pelo seu realismo estético e pela personalidade das personagens, é acusada de racismo, precisamente pelos estereótipos que estas representam. No entanto, os cartoons mais racistas são geralmente direccionados para a raça negra, como se pode ver pelo filme “Coal Black and De Seben Dwarfs”. Primam pelo exagero e pelo cómico, escondendo assim a descriminação directa e fazendo com que essas “gags” tenham um carácter aparentemente inofensivo. Neste pequeno filme de sátira à Branca de Neve da Disney, podemos ver como o esteriótipo da mulher negra é representado e como esta era vista pela sociedade da época - um mero objecto sexual. Este tipo de animação também fazia com que, em tempo de crise da guerra, o cómico não tivesse aparentemente qualquer tipo de mensagem para além do que era mostrado visualmente.
Durante este período, a animação teve um papel importantíssimo para a imposição dos objectivos e mentalidade dos diferentes países, independentemente do que estava “certo” ou “errado”. Assim, temos como exemplo, a reacção aos japoneses em muitos “cartoons”, através do seu estereótipo. Em oposição, por parte do Japão, temos a reacção ao típico filme da Disney, como se pode ver por alguns filmes do género de animação, conhecido como Anime.
As sementes do racismo são então transmitidas de forma subtil, através de produtos tão facilmente assimilados como o cinema de animação. Conseguimos assim entender de que forma atitudes racistas, como as descritas anteriormente, são possíveis e aceites como banais por uma sociedade. Daí que seja “normal” a indiferença espelhada no rosto da personagem feminina da foto, assim como a resignação do asiático perante a atitude irracional do americano.
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